20.5.12

bagagens


mesmo sem perceber, quando navego à esmo,
sempre percorro um caminho,

a maré é generosa e me agracia.

me leva às tuas praias de areias tão brancas
e brisa suave.

após alguns dias ancorado,
o cheiro de mar e o gosto de sal se ausentam,
só assim eu consigo me lembrar do perfume,
e principalmente do sabor da vida.

sem querer escapa um sorriso,
"o que?" você me pergunta
"nada." eu respondo
é só um sentimento que transborda.

escondidos,
embrulhados em um pedaço de pano vermelho
carregamos nossos fardos,
e mesmo tão jovens, corações estilhaçados.

me pego percorrendo a orla dia e noite,
como se procurasse estilhaços
de estrelas ausentes,

recolho cada fragmento
numa tentativa desesperada de juntar tudo
e assim poder ver e entender você,
comparar as cicatrizes.

a desvantagem de ser valioso é ser frágil.
e o medo é apenas uma ferramenta natural
que utilizamos para preservar algo que nos importa

portanto,
não tenha medo de ter medo,

já é noite, vamos dormir,
e fica aqui mais perto de mim.